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Senhor Palomar

Livros, autores, leituras e edição de livros em geral.

Senhor Palomar

Livros, autores, leituras e edição de livros em geral.

24.Jun.10

Amalfitano.


O Senhor Palomar pergunta-se se alguém acharia mesmo que não convocaria para esta mesa um dos seus amigos de 2666:

 

«Amalfitano é o nome de guerra de um pacifista, o desígnio divino de um ateu. Diz-se que já viveu em Santa Teresa (isto é, Ciudad Juarez; isto é, o inferno na terra), com uma voz alheia dentro da cabeça, um medo doido de perder a filha, um livro pendurado com molas nas cordas da roupa. Ele bem que gostava de ser esse homem frágil, perdido no seu próprio labirinto, mas não é personagem de Bolaño quem quer. O mais certo é que viva no Bombarral. Ou então dorme num carro velho, saco-cama no banco de trás e porta-bagagens a abarrotar de livros. Ou então é um gerente de conta do BES, com uma visão muito peculiar do que é o Espírito Santo (nem queiram saber). Ou então embala bifinhos de peru no talho do Pingo Doce de Alvalade, enquanto se imagina num dos navios do Conrad. Ou então é um comentador desportivo com complexos, por gostar dos livros de W. G. Sebald. Ou então é um intelectual da nossa praça de táxis. Ninguém sabe. Ninguém vai saber. Agora aturem-no.»

24.Jun.10

Molly Bloom.

 

Chegou a vez de Molly Bloom se instalar, passe a expressão, no Senhor Palomar. Apresentação pela própria: «Apelidaram-na de Penélope, dupla da mulher de Joyce, Mulher com direito a maiúscula e tudo: Molly Bloom não quer ser mais do que uma Flor da montanha. Tem à cabeceira uns quantos escritores do establishment português e anglo-saxónico, mas não se priva de escapadelas frequentes com géneros de reputação imprópria. Ilusões, não as tem. O seu mundo é o sensual, a sua palavra a do corpo. Logo, ler dá-lhe tanto prazer quanto cortar os dedos nas folhas. (É só por essa razão que os e-readers não hão-de entrar em Eccles Street, pelo menos até neles poder confundir o seu sangue com o sangue do livro.) Sabe pontuar, oh sim!, se sabe. E sabe dizer não.»

 

Imagem acima: Nan Goldin, Sandra in the Mirror, New York City, 1985.

23.Jun.10

Godot apresenta-se.

 

Mais um colaborador do Senhor Palomar: «Ninguém sabe por que razão Godot não apareceu à hora combinada. É um mistério que alimenta a escrita, combustão para múltiplos devaneios. Mas essa talvez seja a melhor forma de entender a literatura. Como uma ausência que se pressente, a manifestação do que não se vê, um vazio ou um nada que o leitor tem de preencher. Não há verdades definitivas, nem certezas duradouras. Apenas o prazer da leitura. É isso que o senhor Godot pretende partilhar convosco: momentos de silêncio, ao lado de um livro, de um romance, de um ensaio, de um poema ou de um clássico, filtrados pela acessibilidade da linguagem comum. Tirando as suas leituras, Godot tem pouca história. A sua biografia não apresenta muitos factos de relevo. Faz parte daquela geração que aprendeu a viver entre a épica e a crise iminente. Gosta de ler muitos livros de seguida e de os misturar na cabeça. Tem especial devoção pelos bons tradutores, aprecia edições cuidadas e colecciona obras completas. Diz que sim a muitos encontros. Mas a maior parte das vezes esquece-se de aparecer. Talvez fique a ler. Ou a escrever para este blogue.»

22.Jun.10

Emma Bovary.


Mais um convidado: Emma Bovary.

 

Apresentação pela própria: «Emma Bovary gosta de ler romances de todo o tipo. Lê livros considerados bons e tem um fraquinho pelos livros dos tops, mal vistos pela crítica e pela blogosfera bem lida e melhor pensante. Madame Bovary não é Gustave Flaubert, apesar de poder, eventualmente, ser casada. Emma Bovary é, com certeza, uma senhora, e não acredita que a literatura corrompe. Segundo Emma, que andará pela casa dos trinta e viveu muito pouco, a humanidade está à partida corrompida e só a ficção pode salvar-nos, na medida em que banaliza os erros e nos aliena e angustia de forma mediada, por vozes entrepostas. No sufoco dos outros, podemos esquecer-nos do nosso e respirar melhor. Madame Bovary também lê poesia, mas não gosta de falar sobre isso. E livros de culinária, mas promete não relatar receitas falhadas.»

18.Jun.10

Muito triste.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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15.Jun.10

Aviso aos 3 leitores deste blogue.

O Senhor Palomar terá novidades para breve. O Senhor Palomar vai abandonar esta casa, mas antes vai enchê-la de amigos. O Senhor Palomar vai continuar, mas em companhia. O Senhor Palomar não pode dizer mais nada, porque os convidados que passarão a ser residentes ainda não fizeram o check in. O Senhor Palomar é como aqueles deputados que falam muito, mas não dizem nada. Agora, o Senhor Palomar vai ali e já vem.

14.Jun.10

Aviso à navegação ou quando o Senhor Palomar quer usar este blogue para fazer filosofia de pacotilha.

As palavras têm destas coisas. Dizer: o teu olhar tem ódio é, já se vê, muito diferente de o teu olhar tem ópio. E, contudo, a separar as frases, apenas uma letra.

 

Por outro lado, se este post fosse retirado de um volume de poesia concretista, todos veriam que basta passar uma tempestade para haver uma inversão da forma (ou dos papéis), pelo que é normal que um d se transformar num p. Ou talvez não se dissesse nada e isto seja simplesmente estúpido.

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