O Senhor Palomar pergunta-se se alguém acharia mesmo que não convocaria para esta mesa um dos seus amigos de 2666:
«Amalfitano é o nome de guerra de um pacifista, o desígnio divino de um ateu. Diz-se que já viveu em Santa Teresa (isto é, Ciudad Juarez; isto é, o inferno na terra), com uma voz alheia dentro da cabeça, um medo doido de perder a filha, um livro pendurado com molas nas cordas da roupa. Ele bem que gostava de ser esse homem frágil, perdido no seu próprio labirinto, mas não é personagem de Bolaño quem quer. O mais certo é que viva no Bombarral. Ou então dorme num carro velho, saco-cama no banco de trás e porta-bagagens a abarrotar de livros. Ou então é um gerente de conta do BES, com uma visão muito peculiar do que é o Espírito Santo (nem queiram saber). Ou então embala bifinhos de peru no talho do Pingo Doce de Alvalade, enquanto se imagina num dos navios do Conrad. Ou então é um comentador desportivo com complexos, por gostar dos livros de W. G. Sebald. Ou então é um intelectual da nossa praça de táxis. Ninguém sabe. Ninguém vai saber. Agora aturem-no.»