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Senhor Palomar

Livros, autores, leituras e edição de livros em geral.

Senhor Palomar

Livros, autores, leituras e edição de livros em geral.

20.Ago.09

Thomas Pynchon, por Pedro Vieira, ou a coragem de se dizer o que se pensa, sem nos importarmos se é socialmente correcto e aceite

«admito, eu também andava a salivar com a perspectiva de ler um livro do Pynchon, e não é por achá-lo encantadoramente idiossincrático, aquilo de não aparecer, de não dar a cara, isso também o fazem as senhoras que se prostituem e que vão falar do assunto à júlia pinheiro, passe a redundância, na verdade convenci-me de que seria mais um americano que valeria a pena conhecer, já que ainda os desbastei pouco, aos americanos, o que é uma vergonha, na verdade já apareci uma vez na capa do Avante e portanto há que gostar dos ianques com parcimónia, imperialistas e o raio, bons são os chineses, comezinhos e progressistas, mas adiante, queria só dizer que não gostei d'O Leilão do Lote 49, talvez porque não é para o meu arcaboiço intelectual que tem a espessura de uma cintura do darfur, talvez porque a saraivada de personagens que vêm à liça fazer pilhéria da protagonista me tenha feito suspirar pelos mestres russos, talvez porque os poucos momentos de irrisão me façam ter saudades do anarco-tom sharpismo, mais escorreito, menos hermético, mais à minha moda, talvez porque nunca ando com analgésicos na mochila que ajudem a dissipar o nó nos miolos, e pior, ontem debulhava as últimas páginas do canhenho enquanto no metro, à minha volta, deambulavam um aleijado com o braço ao peito e olhos rancorosos, uma preta sem uma perna apoiada numa muleta de pau, umas dúzias de zombies de agosto muito mal-encarados, e eu a julgar-me também entalado na asfixiante conspiração Trystero ou lá do que é que o romance fala, e não me venham com semióticas e alegorias e o caralho, eu já só suava e acabei por ver a luz no topo das escadas rolantes do Rato, local onde encontrei um indivíduo que considero intelectualmente, sendo que o mesmo me confidenciou nunca ter acabado um Pynchon, ah leão, que alívio, aqui temos o nosso pequeno segredo de polichinelo.

e encerro com uma apreciação à monumental razia feita pela relógio d'água aos acentos do livro, graves ou agudos, sem esquecer o massacre de cedilhas, aliás, só não falo de genocídio ortográfico porque tenho medo que algum turco agressivo me ande a ler e que julgue estar-se aqui a tratar daquela merda dos arménios, quando a questão é muito, mas muito mais simples, chama-se revisão e assim. vejam lá isso, pá. os autores de culto e seus leitores agradecem. os outros, ligeiramente menos masturbatórios, também
»


O Senhor Palomar pede desculpa a Pedro Vieira por ter colocado o post na íntegra ("um grunho vai atrás do hype e depois fode-se"), mas não resistiu.

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